Reportagem e indicação do megasucesso em Marie Claire: http://revistamarieclaire.globo.com/Revista/Common/1,,EMI311473-17737,00.html
"Cinquenta Tons de Cinza": fenômeno editorial, a trilogia erótica, primeira obra escrita pela mãe de família inglesa E. L. James, é sucesso mundial
Por
Ana Carolina Ralston e Letícia González. Fotos: Times Newspapers Ltd; Sÿlve Sundsbÿ/Art Commerce
Fenômeno editorial, a trilogia erótica Cinquenta Tons de Cinza,
primeira obra escrita pela mãe de família inglesa E. L. James, vendeu
dez milhões de cópias desde seu lançamento, em março. O primeiro livro
chega em agosto ao Brasil e trata da relação sadomasoquista entre uma
jovem universitária e um bilionário de 30 anos. Lá fora, a publicação
gerou desconforto entre feministas, aumentou a venda de produtos em sex
shops, foi banida de bibliotecas em três estados americanos e alimentou
grupos de discussão entre mulheres casadas que não têm medo de apimentar
sua relação.
No último dia 23 de abril, Erika Leonard, ou E. L. James,
uma mãe de família inglesa de 48 anos, ganhou o que costuma ser
reservado a chefes de estado ou nomes da nova economia como Barack Obama
e Mark Zuckerberg: a manchete da revista semanal americana Newsweek. O feito dela? Ter escrito a trilogia Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey,
no original), que narra o romance sadomasoquista entre a jovem
universitária Anastasia Steele e o bilionário Christian Grey,
responsável pela iniciação sexual da garota.
As passagens
do sexo sadomasô temperadas com a paixão que surge entre os dois logo
no primeiro encontro conquistaram o público feminino. O livro provocou
uma corrida editorial em 37 países — aqui no Brasil, a Intrínseca pagou
caro pela exclusividade e vai colocar o primeiro volume nas prateleiras
em 1º de agosto. O sucesso repentino surpreendeu a própria autora. “Nem
nos meus sonhos mais utópicos imaginei estar entre os mais vendidos do The New York Times”,
disse ela. A obra começou de maneira despretensiosa, a partir de um
hobby. Há pouco mais de dois anos, Erika, então gerente de produção de
uma TV londrina, mãe de dois filhos, passava as tardes em frente ao
computador escrevendo histórias apimentadas inspiradas nas aventuras do
vampiro Edward e da amada Bella, personagens da saga Crepúsculo. Os contos faziam parte da sua página em um site de fan fiction, modalidade literária na qual fãs postam histórias criadas a partir de livros, filmes e séries de TV.
De
olho na audiência crescente do conteúdo online da escritora, uma
pequena editora australiana propôs a Erika que cobrasse pelo download da
história e também fizesse cópias impressas. A autora resolveu, então,
mudar os personagens, o início da história, sua assinatura (para E. L.
James) e manter as cenas mais picantes. O enredo foi vendido para a
editora americana Vintage Books, selo da gigante Random House, e colocou
E. L. James na lista das cem pessoas mais influentes da revista Time. A publicação também será adaptada para o cinema e deve ter Kristen Stewart como protagonista.
Sucesso e polêmica
Tamanho sucesso poderia ser justificado por ser outro fenômeno nascido na internet. Mas, segundo especialistas, é mais do que isso. As passagens do livro em que o clima vai esquentando aos poucos (algumas transas chegam a se estender por mais de dez páginas), com os movimentos de Grey desenhados sob medida para o prazer feminino, funcionam para as mulheres. “O mérito desse material é excitar”, diz o psiquiatra Luiz Sperry Cezar, de São Paulo. “A pornografia em si é popular. Mas a maioria dos conteúdos é voltada para homens. A autora construiu um canal para falar diretamente com as leitoras”, afirma ele. Alguns críticos dizem, ainda, que a linguagem fácil e o sadomasô light do enredo o tornam ainda mais palatável. Tanto que, nos Estados Unidos, o livro foi chamado de “pornô para mamães”.
Ao mesmo tempo em que faz sucesso, a trilogia também levanta polêmica. Algumas rodas de debate da TV americana cogitaram que o fenômeno coloca em xeque as lutas feministas por igualdade, já que a protagonista Ana é totalmente submissa ao amante. Sperry Cezar acredita, entretanto, que essa ideia é machista e equivocada. “É o contrário. É por causa das décadas de feminismo que a mulher do século 21 pode fazer o que quiser, inclusive fantasiar com a submissão”, diz. “Os papéis sexuais e sociais não têm de ser necessariamente os mesmos.”
A psicanalista e escritora carioca Regina Navarro Lins, conhecida pelas posturas feministas, afirma que ainda há muita confusão e preconceito sobre o sadomasoquismo. “Tenho um paciente que parou de sair com a namorada porque ela pediu uns tapas. Achou aquilo um absurdo.” O que muitas pessoas ainda não entendem, diz Regina, é que o sadomasoquismo de consenso, como o retratado em Cinquenta Tons, tem como proposta ser bom para ambas as partes, dominante e dominado. “O problema das fantasias sexuais é que as pessoas têm vergonha delas, acham que são as únicas a tê-las”, diz Regina. “Aí vem um livro em que isso é descrito em detalhes e vira um sucesso. Há uma identificação.”
Prazer masculino
A prova de que a submissão não é uma condição intrínseca da mulher é que os homens também sentem prazer com ela. Tanto que, já em 1994, Marie Claire mergulhou no universo S&M de São Paulo e Rio de Janeiro com a matéria “Nos Domínios da Rainha Sádica”, em que contávamos a rotina de Sarah Domina, “dona” de 200 escravos que pagavam para sofrer nas mãos dela. Muitos deles, empresários e executivos. “Numa sociedade patriarcal como a nossa, as mulheres aprendem a reprimir o desejo de transar na primeira noite e os homens a reter fantasias de submissão”, diz Regina. “Mas estudos mostram que os dois têm prazer nisso. É um jogo, excita.” Leia em primeira mão trechos do livro.
TRECHOS DO LIVRO...
— Eu sabia que você era inexperiente, mas virgem? (...) Vamos resolver esse problema agora mesmo. (...) Você é uma garota corajosa. Estou impressionado.
— Eu sabia que você era inexperiente, mas virgem? (...) Vamos resolver esse problema agora mesmo. (...) Você é uma garota corajosa. Estou impressionado.
As palavras parecem um
dispositivo incendiário. Meu sangue arde. Ele se abaixa e beija minha
boca delicadamente, depois chupa meu lábio inferior.
—
Quero morder esse lábio. — murmura junto da minha boca, e a puxa
cuidadosamente com os dentes. Dou um gemido e ele sorri (...).
—
Fique quieta — murmura ele, e aí se abaixa e vai me beijando, subindo
pela parte interna da coxa, continuando por sobre o fino tecido rendado
da calcinha. Ah, não consigo ficar parada. Como posso não me mexer?
Contorço-me embaixo dele (...). Ele vai beijando a minha barriga, e
enfia a língua em meu umbigo. Continua subindo, beijando meu torso.
Minha pele arde. Estou afogueada, com muito calor, muito frio, agarrada
ao lençol embaixo de mim. Ele se deita a meu lado, e sua mão vai
passeando pelo meu quadril, pela cintura e subindo até meu peito (...).
—
Muito bom — sussurra ele em tom de aprovação, e meus mamilos ficam mais
duros ainda. Ele chupa delicadamente um enquanto sua mão vai para o
outro seio e, com o polegar, rodeia a ponta do mamilo. Gemo, uma
sensação doce dentro de mim. Estou muito molhada. Ah, por favor. Imploro
silenciosamente, agarrando-me com mais força ao lençol. Seus lábios se
fecham em volta do meu outro mamilo, e, quando ele puxa, quase tenho
espasmos.
— Vamos ver se podemos fazer você
gozar assim — diz ele, continuando o ataque lento e sensual. Meus
mamilos suportam o delicioso impacto de seus dedos e seus lábios hábeis,
que acendem cada uma de minhas terminações nervosas e fazem meu corpo
inteiro cantar com uma doce agonia. Ele simplesmente não para.
—
Oh... por favor — imploro, e inclino a cabeça para trás, a boca aberta
enquanto gemo, esticando as pernas. Minha nossa, o que está acontecendo
comigo? (...).
Seus dentes se cerram em volta do
meu mamilo, e ele puxa com força com o polegar e o indicador, e eu
desmonto na mão dele, o corpo estremecendo em espasmos e explodindo em
mil pedaços. Ele me beija, a língua enfiada na minha boca, absorvendo
meus gritos.
Nossa. Foi extraordinário. Agora
sei porque o alvoroço todo em torno desse assunto. Ele me olha, um
sorriso satisfeito nos lábios (...).
— Você é
muito sensível. — suspira ele. — Vai ter que aprender a controlar isso, e
agora vai ser muito mais divertido ensinar (...).
— Você está deliciosamente molhada. Eu quero você.
Ele
enfia o dedo dentro de mim, e dou um grito quando ele enfia de novo e
de novo. Ele manipula meu clitóris, e dou outro grito. Ele mexe o dedo
dentro de mim com mais força ainda. Gemo.
De
repente, ele se senta na cama, arranca a minha calcinha e a joga no
chão. Tira a cueca, e a ereção se revela, livre. Puta merda (...).
Debruça-se,
apoiando as mãos de ambos os lados da minha cabeça, de modo que paira
sobre mim, olhando-me nos olhos, a mandíbula cerrada, os olhos ardentes.
Só agora vejo que ele ainda está de camisa.
— Quer mesmo fazer isso? — pergunta suavemente.
— Por favor. — imploro.
—
Levante as pernas. — ordena com delicadeza, e obedeço de imediato. —
Agora vou começar a foder você, Srta. Steele. — murmura ele, ao
posicionar a cabeça de seu pau na entrada do meu sexo. — Com força. —
murmura, e me penetra.
— Aai! — grito ao sentir
um estranho beliscão lá dentro de mim enquanto ele tira a minha
virgindade. Ele fica imóvel, me encarando, os olhos brilhando em êxtase
com a vitória. Sua boca está entreaberta, e sua respiração é pesada. Ele
geme.
— Você é muito apertada. Está tudo bem?
Faço
que sim, olhos arregalados, segurando os antebraços dele. Sinto-me
muito plena. Ele continua parado, deixando que eu me acostume à sensação
avassaladora e intrusiva de tê-lo dentro de mim (...).
Ele recua extremamente devagar. E fecha os olhos e geme, e torna a me penetrar. Grito de novo, e ele para.
— Mais? — murmura, a voz rouca.
— Sim. — suspiro.
Ele faz de novo, e torna a parar. Gemo, o corpo aceitando-o... Ah, eu quero isso.
— De novo? — sussurra ele.
— Sim. — É uma súplica.
* * *
“Há uma grande estrutura de madeira em X
presa à parede em
frente à porta”
presa à parede em
frente à porta”
A
primeira coisa que noto é o cheiro: couro, madeira, cera com uma leve
essência cítrica. É muito agradável, e a iluminação é suave, sutil. Na
verdade, não consigo ver de onde vem, mas está em toda a volta da
cornija do teto, e emite uma luz acolhedora (...). Há uma grande
estrutura de madeira em forma de X presa à parede em frente à porta. É
feita de mogno polido, e tem algemas pendendo das quatro pontas (...).
— Diga alguma coisa. — ordena Christian, a voz enganosamente macia.
— Você faz isso com as pessoas ou elas fazem isso com você?
Ele dá um sorriso torto, ou achando graça ou aliviado.
— As pessoas? — Ele pisca duas vezes enquanto pensa na resposta. — Faço isso com mulheres que querem que eu faça.
Não entendo.
— Se você tem voluntárias dispostas, por que estou aqui?
— Porque eu quero muito, muito fazer isso com você (...).
O
que ele está fazendo agora? Ajeitando-se, ele fica entre as minhas
pernas, colado nas minhas costas, e sua mão some pela minha coxa na
direção da minha bunda. Ele afaga devagarinho o meu rosto, e desce com
os dedos até entre as minhas pernas.
— Vou comer
você por trás, Anastasia. — murmura ele, e, com a outra mão, segura meu
cabelo na altura da nuca e puxa de leve, me prendendo. Não consigo
mexer a cabeça. Estou imobilizada embaixo dele, sem poder fazer nada.
—
Você é minha. — sussurra ele. — Só minha. Não se esqueça disso. — Sua
voz é embriagadora, suas palavras, excitantes e sedutoras. Sinto sua
ereção crescente na minha coxa. Seus dedos massageiam delicadamente meu
clitóris, em lentos movimentos circulares. Sua respiração é suave em meu
rosto enquanto ele vai mordiscando devagarinho a minha mandíbula.
— Você tem um cheiro divino. — Ele esfrega o nariz atrás da minha orelha (...).
Num
reflexo, meus quadris começam a se mexer, (...), enquanto uma onda
lancinante de prazer corre no meu sangue como adrenalina.
—
Fique quieta. — ordena ele, a voz meiga mas imperiosa, e enfia o
polegar devagarinho dentro de mim, girando e girando, roçando a parede
da minha vagina.
O efeito é enlouquecedor — toda a minha energia concentrada naquele pontinho dentro do meu corpo. Gemo.
* * *
“Meus mamilos suportam bem o impacto de seus dedos e seus
lábios hábeis”
lábios hábeis”
(...) — Ah, Anastasia Steele, será que você acabou de revirar os olhos para mim?
Merda.
— Não. — guincho.
— Pensei que tivesse revirado. O que eu disse que faria com você se tornasse a revirar os olhos para mim?
Merda. Ele se senta na beira da cama.
(...)
— Eu disse o que faria. Sou um homem de palavra. Vou lhe dar uma surra,
e, então, vou foder com você bem depressa e com bastante força. Parece
que vamos precisar daquela camisinha, afinal.
(...)
De repente, ele me agarra, me fazendo cair por cima dele. Com um único
movimento suave, ele se posiciona de tal maneira que fico com o torso
deitado na cama ao seu lado. Ele joga a perna direita por cima das
minhas e me prende com o braço, me imobilizando. Ai, porra.
— Coloque as mãos na cabeça. — ordena.
Obedeço na mesma hora.
— Por que estou fazendo isso, Anastasia? — pergunta.
— Porque revirei os olhos para você. — Mal consigo falar.
— Acha que essa é uma atitude educada?
— Não.
— Vai fazer de novo?
— Não.
— Vou lhe dar uma surra toda vez que fizer isso, entendeu?
Muito lentamente, ele abaixa as minhas calças. (...) Merda, será que vai doer?
Ele
põe a mão na minha bunda nua, acariciando-me delicadamente, fazendo
movimentos circulares com a palma da mão. De repente, retira a mão... e
me bate — com força. Ai! Arregalo os olhos reagindo à dor, e tento me
levantar, mas ele põe a mão entre as minhas escápulas me forçando para
baixo. Torna a acariciar o local onde me bateu, e sua respiração muda —
está mais ruidosa, mais forte. Ele me bate de novo e de novo, depressa e
sem interrupção. (...) Surge um padrão rítmico: carinho, afago,
palmada. Tenho que me concentrar para enfrentar essa dor. Minha cabeça
se esvazia enquanto me esforço para absorver aquela agonia. Ele não me
bate duas vezes no mesmo lugar — está espalhando a dor.
— Aaai! — grito na décima palmada, e, então, percebo que andei contando mentalmente os golpes.
(...) — Ninguém vai ouvir você, querida, só eu.
(...)
Ele continua naquele ritmo implacável. Grito mais seis vezes. Dezoito
tapas ao todo. Meu corpo está urrando, urrando por causa desse ataque
impiedoso.
— Chega. — sussurra ele asperamente. — Muito bem, Anastasia. Agora vou foder com você.
— Está sentindo? Está vendo quanto o seu corpo gosta disso, Anastasia? Você está toda molhada, só para mim.