sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

ENTREVISTA DA REVISTA MARIE CLAIRE

Sex News / Entrevista - 27/11/2009

Disponível em:
http://revistamarieclaire.globo.com/Revista/Common/0,,EMI107259-17637,00-NAO+SOU+EXIBICIONISTA.html


"Não sou exibicionista"

A stripper mais bem paga do mundo não vive sem maquiagem e detesta lembrar de seu ex-marido, o roqueiro MarIlyn Manson. Mas, a seguir, fala sobre os momentos difíceis da separação, os tempos em que ainda era heather renée sweet, a tímida filha do meio de uma manicure e de um operário norte-americanos, e assume que já namorou mulheres

Por Marina Caruso e Marcelo Bernardes
Os seios pontiagudos, os cabelos negros, a charmosa pintinha do lado esquerdo do rosto e a maneira ensaiada de ajeitar a franja que, eventualmente, escorrega. Tudo é falso em Dita Von Teese. E ela adora: “Não acho demérito ser fabricada. Tenho orgulho disso”, diz. “As mulheres do red carpet querem ser sexy e angelicais como Grace Kelly. Eu prefiro ser eu mesma.” E é. Em dois encontros com Marie Claire — um no tradicional hotel Ritz de Nova York e outro no recém-inaugurado L’hotel, em São Paulo — a performer de 37 anos mostrou-se muito mais à vontade do que sua imagem de bibelô prenunciava. Falou abertamente sobre os traumas de uma infância quase sem amigos, no estado de Michigan, nos EUA, e da adolescência igualmente solitária na Califórnia, para onde se mudou, com a família, aos 12 anos.
Albert  Sanchez
Responsável por trazer de volta o burlesco, gênero de espetáculo sensual que marcou as décadas de 40 e 50, Dita começou a carreira de performer no início dos anos 90, quando era só mais uma go-go girl nas raves de Los Angeles. Quase duas décadas depois, virou habitué das melhores festas do planeta, passou a ser convidada para os desfiles badalados das semanas de moda e chega a cobrar cerca de 80 mil dólares por um strip-tease de, no máximo, dez minutos. Rodeada por garrafas de Cointreau, marca de licor que a patrocina, e bebericando apenas um ou outro gole d’água, Dita concedeu a seguinte entrevista:
Marie Claire Quem assiste às suas performances tem a impressão de que você é um dínamo sexual. Mas, pessoalmente, você parece tímida. Como é isso?
Dita Von Teese Minha timidez confunde as pessoas [risos]. Não tenho problemas com o que faço para ganhar a vida. Sou confortável com minha profissão, mas falar publicamente me deixa nervosa. Não gosto quando me perguntam sobre o que não sei responder; fico aflita quando me encaram. Tiro a roupa para mostrar a tradição dos shows burlescos das décadas de 30 e 40. Não sou exibicionista. Sou uma atriz burlesca. E burlesco é tirar a roupa até o fio dental. Não é sair por aí dançando de meia arrastão e cartola.
MC Quando Betty Page surgiu com shows burlescos, nos anos 50, os críticos a chamaram de pornográfica. Mais tarde, ela foi considerada uma grande feminista por mostrar o poder da mulher. Para você, o que isso significa?
DVT Betty mostrou a força das mulheres e fez as pessoas verem que a nudez não era um bicho de sete cabeças. Uma vez, os organizadores de um show que fiz em Ibiza trouxeram suas duas filhas, de 11 e 13 anos, para me assistirem. Meu lado de puritana americana falou mais alto e fui chamar a atenção dos pais das garotas, dizer que aquilo não era apropriado. Eles responderam: “Você está de brincadeira, né? Nossas filhas veem mulheres nuas todos os dias na praia. São completamente confortáveis com nudez”. A nudez, de fato, é uma atitude feminista positiva.
“Durante o divórcio, me senti feito uma mulher-objeto”
MC Quando agendamos esta entrevista, fomos proibidos de tocar no nome do Marilyn Manson. Por que a proibição?
DVT Muitas pessoas me perguntam se eu me sinto uma mulher-objeto quando tiro a roupa. Quer saber qual foi o único momento da minha vida em que me senti um objeto? Quando passei por esse divórcio. E ainda hoje, quando abro uma revista e vejo esse assunto estampado. As pessoas me tratam como se eu não tivesse sentimento. Você já se separou? Sabe o quanto isso machuca? Imagine agora se o mundo inteiro te perguntasse como foi isso. É duro. Aliás, é duro duas vezes. Pela própria separação e por ter que relembrá-la. E tem mais: esse assunto me incomoda porque acho que ele [o ex] deveria fazer sua própria publicidade, não pegar carona na minha!
MC Na época da separação, vocês falaram muito de diferenças de ritmo e estilos. Como é a sua rotina? A que se referia?
DVT Sou uma pessoa diurna. Gosto de acordar cedo e da sensação de aproveitar o dia. Só durmo tarde quando os shows me obrigam ou quando tenho algum encontro especial com amigos. Tenho medo de perder a luz do dia. Não gosto. Isso, aliás, era muito difícil pra mim quando era casada. Me casei com uma pessoa que simplesmente nunca estava acordada durante o dia. Adaptar meu horário ao dele era impossível. Acordar às 5h da tarde definitivamente não me dá prazer. Nunca deu.
MC O que te dá prazer?
DVT Tarefas do lar como cozinhar para os amigos, lavar roupas...

Dave M. Benett

MC Lavar roupas???
DVT Principalmente quando chego em casa, depois de uma temporada de shows, cheia de saudade da rotina [risos]. Umas semanas depois, confesso que bate aquele “ok, lavar roupa é um saco”. Mas, de um modo geral, adoro as atividades do lar. Também gosto de pintar meu cabelo. Prefiro a ir ao salão, porque controlo melhor o resultado. Faço isso a cada dez dias. E me maquio, diariamente, sem exceção.
MC De manhã, você se olha no espelho de rosto limpo e...
DVT ...e já sinto vontade de me maquiar. Sou viciada em maquiagem. Me pinto até para ficar em casa, sozinha, de bobeira. Aconteça o que acontecer, limpo o rosto com um demaquilante antes de dormir. Minhas amigas até brincam: “Lá vem a Dita com os malditos lencinhos”. É uma regra da qual não abro mão.
MC Como são as mulheres de hoje que você admira?
DVT Determinadas. Outro dia, vi Gwen Stefani num evento e me lembrei do quanto a admiro. Ela também gosta de fazer a própria maquiagem e tem um poderoso estilo pessoal. Gosto de sair com garotas que são garotas, que não usam a sensualidade para intimidar os outros. Nem no palco eu seria essa predadora que olha para os homens como quisesse roubá-los das suas mulheres. Acho isso um horror. E acho também que as atrizes do red carpet estão cada vez mais parecidas umas com as outras. Elas devem virar para os seus maquiadores e dizer: “Por favor, me transformem na Grace Kelly” [risos]. Por favor, mudem o disco! Vocês nunca vão ser Grace Kelly. Desistam de ser angelicais e sexy! Sejam vocês mesmas!
MC Mas as mulheres de personalidade forte afugentam os homens.
DVT Sim. Jamais esquecerei o rosto de um ex-namorado quando pintei os cabelos loiros de preto. Ele achou que era o fim do mundo. Excentricidade demais assusta. Muitos homens ficam intimidados comigo, não gostam nem de trocar olhares. Cansei de ouvir: “Por que você se vestiu desse jeito? Está todo mundo olhando”. Perdi vários namorados que achavam que eu era maluca e os embaraçava publicamente [risos]. Tudo bem. Também já encontrei aqueles que queriam estar em meus braços...
“Perdi vários namorados por acharem que eu os constrangia”
MC Um deles é o filho do estilista francês Jean-Charles de Castelbajac, Louis Marie de Castelbajac, seu atual namorado...
DVT Depois do meu divórcio, fiquei solteira por quase três anos. Conheci Louis Marie no começo deste ano e estou muito feliz. Meu relacionamento é a prova de que tudo acontece por uma determinada razão, de que nada é acidente nessa vida. Passei por um período difícil [com a separação] e acho que a espera valeu porque encontrei alguém muito legal. É sempre bom saber que essa nova pessoa é mais certa para você do que a anterior.
Eu me sinto mais feliz em minha vida agora do que antes.
MC Quando você está em casa, com ele, de bobeira, num domingo à tarde, você também se maquia?
DVT Nem sempre. Ele adora me ver sem maquiagem. Pra mim é difícil entender como [risos], mas faço isso para agradá-lo. Comecei a perceber que, para ele, isso simboliza a intimidade. Vira e mexe me esqueço disso e passo um blush, um batom vermelho, daí ele vem todo fofo e diz: “Can you wash your face, pleaaaase?” [imitando o namorado].

Robin Bell

MC Como é namorar alguém da realeza da moda europeia?
DVT Nunca parei para pensar sobre isso. Foi o pai dele quem nos apresentou, numa festa organizada pela minha amiga Laetitia Crahay, que faz acessórios para Chanel. Já era meio caminho andado para que os pais dele me aprovassem [cai na gargalhada]. A família é incrível, mas não discutimos moda.
MC Qual é seu estilista preferido?
DVT Visto muita coisa do John Galliano para a Dior. Adoro o Jean Paul Gaultier. Uso muito Moschino. Muitos deles reverenciam as épocas que adoro.
MC Você se refere à época de ouro de Hollywood?
DVT Exato. Marilyn Monroe, Marlene Dietrich e Rita Hayworth conseguiram montar uma imagem poderosa e duradoura, porque Hollywood intrometeu-se no jeito que a imagem delas era moldada e perpetuou o mito. Marilyn era ciente da sua imagem e protegia isso. O cabelo era sempre loiro platinado, o batom, vermelho carmim e os cílios, postiços. Ela não se preocupava em mudar. Marlene Dietrich ficou famosa por usar roupas de cortes masculinos na tela e popularizou o terno black-tie entre as mulheres. Essas atrizes abraçaram seus clichês com muito prazer. Adoro isso.
MC É por isso você não se importa em assumir publicamente que seu cabelo é tingido, seus seios, de silicone, e sua charmosa pintinha, uma tatuagem?
DVT Exatamente. Não acho demérito ser fabricada. Tenho orgulho disso.
MC Há alguns anos, você tem sua própria grife de lingeries. Lembra quando ganhou seu primeiro sutiã?
DVT Desde menina, adorava espiar o armário de lingeries da minha mãe. Havia um sutiã preto, de lacinho, super comum que eu achava tão incrível a ponto de querer um igual. Não sei quantos anos tinha quando finalmente o consegui — até porque, fui uma ‘latebloomer’ [expressão, em inglês, para aquela que desabrocha tarde] —, uns 14, talvez. Mas sei que fiquei frustrada, não era tudo aquilo que eu esperava. Pouco tempo depois, arrumei meu primeiro emprego, numa pizzaria. Fiquei dois meses lá, até descolar um trabalho numa loja de lingeries, na casa ao lado. Era o emprego dos sonhos. Sabia tudo sobre a
história das lingeries, ganhava descontos nas peças que comprava e ainda aprendia beautiful little secrets para usar debaixo das roupas.
MC Como, por exemplo?
DVT A cinta-liga. Tenho a minha primeira até hoje! Comprei na Victoria’s Secret, aos 15 anos. Ela é linda, de seda azul, e permanece muito chique. Guardo com o maior carinho no meu armário de lingeries.
MC Você tem um armário só para as suas lingeries?
DVT Um não, vários. Sou louca por lingeries vintages. Não saberia nem dizer quantas tenho. Dois quartos da minha casa em Los Angeles são só delas. É tanta coisa que, vira e mexe, abro os guarda-roupas para as amigas escolherem alguma peça. Mas, na minha primeira cinta-liga, ninguém põe a mão. Vai comigo até o fim da vida.
MC Se você comprou sua primeira cinta-liga aos 15, com que idade deixou de brincar com as bonecas?
DVT Nunca fui de bonecas. Sempre gostei de brincar de me vestir e de fazer desfiles com as roupas da minha mãe. Essa era a minha diversão. Ela tinha um monte de chapéus, luvas e vestidos. Eu aproveitava os figurinos e as aulas de balé para fazer shows para a família e ainda fazia minhas irmãs participarem.
MC Quantas irmãs você tem e o que elas fazem?
DVT Tenho duas. Sou a filha do meio, o que explica muito dos meus complexos [risos]. A mais velha se chama Jeniffer, tem 41 anos e trabalha comigo, no meu site. A mais nova é a Sarah, de 34, que acabou de ter bebê, e tem ficado em casa cuidando dele.
MC Como era a relação de vocês quando meninas?
DVT [dá um longo suspiro] É duro ser a filha do meio, sabe? A mais velha ganha todas as vantagens de ser a primeira: roupas novas, permissão para sair com os primos mais velhos. E a mais nova é a mais paparicada, a mais bonitinha. As duas, aliás, sempre foram muito mais bonitas do que eu. Quando criança, eu era o próprio patinho feio.
MC Toda mulher bonita diz isso...
DVT Mas é verdade! Vou te mostrar as fotos [veja as imagens em www.revistamarieclaire.com.br]. Eu era feia e tímida. Perto das minhas irmãs, desaparecia. Na escola, viviam chamando meu pais para saber o que havia de errado comigo, queriam entender por que eu não falava e insistiam em me encaminhar para terapias. Felizmente, meus pais refutavam: “Ela sabe falar sim, só não tem vontade”.
MC Até quando foi assim?
DVT Até o fim do ensino médio. Eu era só uma garotinha de 11 ou 12 anos quando nos mudamos de Michigan — onde eu vivia brincando de casinha e andando de bicicleta — para Irvine, na Califórnia, um lugar muito mais avançado. Enquanto as meninas de lá já estavam fumando baseados e experimentando cocaína, eu ainda brincava de casinha. Não entendia nada e acabei ficando isolada. Adolescentes só gostam de andar com quem é cool. E eu, definitivamente não era.
MC Como isso mudou?
DVT Aos 16, 17, eu ainda me chamava Heather Renée Sweet. Só mudei meu nome quando cheguei à maioridade e escolhi Dita em homenagem à Dita Parlo, quando comecei a me apresentar profissionalmente. Mas nessa época, eu já era mais o que queria ser e menos o que outros queriam que eu fosse. Passei a usar batom vermelho, a arrumar o cabelo de um jeito diferente e a me vestir como me dava vontade. Fui percebendo que quando dançava balé ou armava performances em casa, não era tão tímida...
“Era tímida e feia. Viviam chamando meus pais na escola”
MC É verdade que seu pai só passou a respeitar seu trabalho depois que você posou nua para uma revista masculina, em 2002?
DVT Como qualquer americano, meu pai via a Playboy como modelo. Toda grande atriz de cinema tinha sua capa de Playboy nos anos 70, 80 e 90. Sharon Stone, Goldie Hall, a lista era gigante. Meu pai não chegou a me ligar para dar os parabéns, mas ficou orgulhoso. E tudo bem, né? Nunca tive essa necessidade de ser aceita por ele e amada pelas pessoas. Não dou bola para o que pensam ou falam de mim. Quando me criticam, digo, com educação: “Você paga as minhas contas? Não. Então, muito obrigada pela sua opinião, mas ela não me interessa”.

Richard Young

MC Quando você fez a sua primeira perfomance burlesca?
DVT Comecei em 1990 como go-go dancer de raves em Los Angeles. Alguns anos depois, decidi que queria mais que isso. Queria me apresentar em casas de strip-tease. Lembro-me bem da primeira vez que tirei meu top e mostrei os seios.
MC Como você se sentiu?
DVT Não era eu quem estava tirando a roupa. Era a performance que estava acontecendo. Até hoje me sinto assim. Não fico analisando meu corpo ou me preocupando com o que os outros estão achando. Só penso: “Uhu, aqui estou eu ganhando para tirar a roupa. Que maravilha”.
MC Algum espectador já tentou te agarrar durante um show?
DVT Uma vez, no meio de um show, senti uma coisa enroscando na minha cinta-liga e virei para ver o que era. Era uma garota! Virei e disse: “Ei, você não pode fazer isso só porque é uma mulher, vai estragar tudo”.
MC É verdade que você já namorou mulheres?
DVT Houve um momento bem curto [enfática] da minha vida em que namorei mulheres. Foram duas, ao todo. Eu trabalhava num club de strip-tease, tinha 21 anos e queria viver em festa. Foi algo muito mais insignificante do que pode parecer. Prefiro nem entrar em detalhes.
MC Ser bissexual está na moda entre os adolescentes. O que acha disso?
DVT Acho sensacional quando as pessoas estão com quem estão porque se amam, não porque querem chocar ou agradar seus pais. No mundo ideal deveria ser assim.
MC É verdade que você detesta quando te perguntam por que ainda não teve filhos e se um dia vai querer tê-los?
DVT Sim, acho isso muito estranho. Já pensou se essa pergunta fosse feita para uma mulher que não pode ter filhos? Ela ficaria desolada. Esse não é meu caso — até onde eu sabia —, mas a pergunta é extremamente deselegante. E aproveito para respondê-la: claro que quero ter filhos, quero tudo o que tenho direito. Mas não vou sair feito uma desesperada procurando um pai para o meu filho. Se acontecer, aconteceu. Se não acontecer, não serei menos importante como mulher. Sinto muito, mas não acho que só a maternidade faz a mulher. Detesto aquele discurso do “ai, querida, você não entende o que isso quer dizer porque você ainda não é mãe”. Chega dessa falsa superioridade!

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