sexta-feira, 22 de maio de 2009

Namorados, Namorai





Namorados, Namorai

"Dia dos Namorados, se namorada tivesse, nem lhe dava presente, fosse jóia ou vestimenta. Apenas namoraria, andaria de mãos dadas pelas ruas até chegar numa pracinha e, diante dos olhares invejosos dos passantes, a gente se beijaria como quem descobriu o amor recentemente. Nada de ficarmos isolados do resto do mundo. Antes dividi-lo, vivê-lo, compartilhá-lo, cada um de nós sendo cada vez mais cada um e assim mesmo, unos.

Amar não significa anular-se, desistir do eu, amoldar-se à idéia e semelhança do outro. Amar é entrega, dádiva, ofertório, jamais um suicídio do ego. Isso diria eu à namorada, se namorada tivesse. Diria também que o amor exige um pouco de mistério, sempre um tantinho a mais de sedução, surpresa, encantamento, espantos, descobertas. E assim, eu e minha namorada avançaríamos pelo dia, vivendo o que nos fosse dado viver.

Não haveria entre nós receio de cruzar essa balouçante ponte entre dois abismos chamada amor. Depois, iríamos em busca do mar, da Praia de Iracema como se ela ainda existisse, minha Nêmesis, minha Caixa de Pandora, Iracema. E lá, diria à namorada que o mar é mulher e outras tantas loucuras, sublimes mentiras que se dizem, febris, os namorados.

Quem sabe falava um poema ou cantava uma canção dizendo assim: 'Se você quer ser minha namorada, ai que linda namorada você poderia ser'. E se ela dissesse sim, é porque o pôr-do-sol já enfeitaria o céu e ela me fitaria com a indizível expressão e ternura inefável de que os poetas sempre estão em agoniada precisão, sob risco imediato de morte súbita. Dia dos Namorados, se namorada eu tivesse, apenas namoraria, mais nada."

AIRTON MONTE

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